Copa do Mundo dos Robôs decide o futuro da humanidade
O futebol e a filosofia são duas grandes conquistas humanas. São gêmeas como Castor e Pólux. Assim como a mandioca, é preciso saudá-las. Por esses dias, não falta quem faça filosofia (de botequim) com os resultados da Copa. Após a eliminação precoce de Messi, Ronaldo e Iniesta, estaríamos diante de um "Crepúsculo dos Ídolos"? Esse é o nome do penúltimo livro de Nietzsche, que, convenientemente para a Copa da Rússia, já carrega o subtítulo "Como filosofar com o martelo". A foice só entraria em campo duas décadas depois.
Filósofos, poetas e cientistas da bola desfilam na televisão, no rádio e na Internet as suas teses mirabolantes. Conceitos sobre o grau de agressividade de um time e o seu nível de entrega (quem entrega, entrega algo a alguém) parecem explicar todos os conflitos humanos. Mas se existe uma Copa do Mundo que realmente pode ser determinante para a humanidade não é essa que se está jogando na Rússia.
Longe dali, na cidade de Montreal, representantes de trinta e cinco países se encontraram pra disputar a RoboCup, a Copa do Mundo da robótica e da inteligência artificial. Reunindo quatro mil humanos e cinco mil robôs, a Robot Soccer World Cup se propõe a testar os limites da robótica com a promessa de que, em 2050, uma equipe de robôs verdadeiramente autônomos possa enfrentar o vencedor da Copa humana.
O campeonato se divide em várias categorias, com robôs de diferentes tamanhos e com a permissão de diferentes formas de contribuição humana (desde robôs teleoperados até os que jogam autonomamente, com humanos apenas colocando e tirando os robôs de campo). Se você parar para pensar, o futebol envolve uma dinâmica desafiadora para o desenvolvimento da inteligência artificial, já que os jogadores precisam desenvolver estratégias de ação que implicam em saber como se portar de acordo com diferentes estímulos, identificando obstáculos e adotando soluções para superá-los. Quem garante que a melhoria nos sensores de um jogador-robô não poderá ser aproveitada nos sensores dos futuros carros autônomos?
A Robocup atualmente vai além do futebol e passou a incluir torneios que colocam robôs para competir na realização de tarefas domésticas, em aplicações industriais e na conclusão de salvamentos. É fácil então perceber que, para além do estímulo lúdico da competição, o que as disputas revelam são os próximos passos de tecnologias que vão se tornar cada vez mais familiar.
No discurso de abertura da edição de 2018, o presidente da RoboCup Federation, Daniel Polani, brincou com o fato de que, no passado, todos diziam que seria melhor se os entusiastas da robótica tivessem seguido profissões mais reais, como médicos ou advogados. Agora – disse ele – "todos sabem que os robôs são o nosso futuro e que faremos mais dinheiro do que médicos e advogados." A cena poderia entrar em um remake de "A Vingança dos Nerds".
A equipe brasileira do Instituto Militar de Engenharia, a RoboIME, ficou em segundo lugar na liga de robôs de pequeno porte em 2018. Em edições anteriores da competição, a equipe da Universidade de Brasília (UnBeatables) já chegou a trazer o caneco para casa disputando a categoria Drop-In Only com robôs chamados RoNAOdo e NAOmar.
Ver os robôs disputar a bola e tentar um drible ainda está longe de ser algo tão empolgante como o futebol jogado por humanos e pelo Cristiano Ronaldo. Nas categorias em que os robôs são mais humanoides, curiosamente não faltam quedas e tropeços para todos os lados. Seria uma consequência do estado incipiente da tecnologia de locomoção ou estariam os robôs só cavando uma falta e fazendo teatro? Não conte com o VAR para tirar essa dúvida.
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